segunda-feira, novembro 07, 2005

Terramoto de 1755

O Terramoto de Lisboa

O sismo fez-se sentir na manhã de 1 de Novembro, dia que coincide com o feriado do Dia de Todos-os-Santos. O epicentro não é conhecido com exactidão, havendo diversos sismólogos que propõem locais distanciados de centenas de quilómetros. No entanto, todos convergem para um epicentro no mar, entre 150 a 500 km a sudoeste de Lisboa. Devido a um forte sismo ocorrido em 1969, no Banco de Gorringe, este local tem sido apontado como tendo forte probabilidade de aí se situar o epicentro em 1755.

Relatos da época afirmam que os abalos foram sentidos, consoante o local, entre 6 minutos e 2 horas e meia, causando fissuras gigantescas de 5 metros que cortaram o centro da cidade de Lisboa. Com os vários desmoronamentos os sobreviventes procuraram refúgio na zona portuária e assistiram ao recuo das águas, revelando o fundo do mar, cheio de destroços de navios e cargas perdidas. Poucas dezenas de minutos depois, um maremoto de grandes proporções, que actualmente se supõe ter atingido 20 metros de altura, fez submergir o porto e o centro da cidade. Nas áreas que não foram afectadas pelo tsunami, o fogo logo se alastrou, e os incêndios duraram pelo menos 5 dias.

Lisboa não foi a única cidade portuguesa afectada pela catástrofe. Todo o sul de Portugal, nomeadamente o Algarve, foi atingido e a destruição foi generalizada. As ondas de choque do sismo foram sentidas por toda a Europa e norte da África. Os maremotos originados pela movimentação tectónica varreram desde do norte de África até ao norte da Europa, nomeadamente até à Finlândia e através do Atlântico, afectando locais tão longínquos como Martinica e Barbados.

Lisboa era uma das cidades mais importantes da Europa, com uma população de 250.000 habitantes, capital do império português e crê-se que 60 mil morreram. Outros 10 mil foram vitimados em Marrocos. Cerca de 85% das construções, cerca de 10.000 casas, de Lisboa foram destruídas, incluindo palácios famosos e bibliotecas, conventos e igrejas, hospitais e todas as estruturas. Várias construções que sofreram pouco danos pelo terramoto foram destruídas pelos incêndios que se seguiram ao abalo sísmico e que duraram 15 dias.

A récem construída Casa da Ópera, aberta apenas seis meses antes, foi totalmente consumida pelo fogo. O Palácio Real, que se situava na margem do Tejo, onde hoje existe o Terreiro do Paço, foi destruído pelos abalos sísmicos e pelo tsunami. Dentro, a biblioteca de 70 mil volumes e centenas de obras de arte, incluindo pinturas de Ticiano, Rubens, e Correggio, foram perdidas. O precioso Arquivo Real com documentos relativos à exploração oceânica e outros documentos antigos também foram perdidos. O terramoto destruiu ainda as maiores igrejas de Lisboa, especialmente a Catedral de Santa Maria, e as Basílicas de São Paulo, Santa Catarina, São Vicente de Fora, e a da Misericórdia.

As ruínas do Convento do Carmo ainda hoje podem ser visitadas no centro da cidade. O túmulo de Nuno Álvares Pereira, nesse convento, perdeu-se também. O hospital Real de Todos os Santos foi consumido pelos fogos e centenas de pacientes morreram queimados. Registos históricos das viagens de Vasco da Gama e Cristóvão Colombo foram perdidos, e incontáveis construções foram arrasadas (incluindo muitos exemplares da arquitectura do período Manuelino em Portugal).
A família real escapou ilesa à catástrofe. O Rei D. José I e a corte tinham deixado a cidade depois de assistir a uma missa ao amanhecer, encontrando-se em Santa Maria de Belém, nos arredores de Lisboa, na altura do sismo. A ausência do rei na capital deveu-se à vontade das princesas de passar o feriado fora da cidade. Depois da catástrofe, D. José I ganhou uma fobia a recintos fechados e viveu o resto da sua vida num complexo luxuoso de tendas no Alto da Ajuda, em Lisboa.

Tal como o rei, o Marquês do Pombal, Ministro da Guerra e futuro Primeiro-ministro de Portugal, e que fora embaixador em Londres, sobreviveu ao terramoto. Com o pragmatismo que caracterizou a sua futura governação, ordenou ao exército a imediata reconstrução de Lisboa. Conta-se que à pergunta "E agora?" respondeu "Enterram-se os mortos e cuidam-se os vivos" mas esse diálogo é provavelmente apócrifo. A sua rápida resolução levou a organizar equipas de bombeiros para combater os incêndios e recolher os milhares de cadáveres para evitar epidemias.

O ministro e o rei contrataram arquitectos e engenheiros, nomeadamente, Manuel da Maia (1677-1768), Eugénio dos Santos (1711-1760) e Carlos Mardel (1695-1763)e, em menos de um ano depois do terramoto já não se encontravam em Lisboa ruínas e os trabalhos de reconstrução iam adiantados. O rei desejava uma cidade nova e ordenada e grandes praças e avenidas largas e rectilíneas marcaram a planta da nova cidade. Na altura alguém perguntou ao Marquês de Pombal para que serviam ruas tão largas, ao que este respondeu que um dias elas serão pequenas....

O novo centro da cidade, hoje conhecido por Baixa Pombalina era uma das zonas nobres da cidade. São os primeiros edifícios mundiais a serem construídos com protecções anti-sísmica, que foram testadas em modelos de madeiras à medida que as tropas marchavam ao seu redor.

O Terramoto de Lisboa abalou muito mais que a cidade e os seus edifícios. Lisboa era a capital de um país católico, com muita tradição de edificação de conventos e igrejas e empenhada na evangelização das suas colónias. O facto de o terramoto ocorrer num dia santo e destruir várias igrejas importantes levantou muitas questões religiosas por toda a Europa. Para a mentalidade religiosa do Século XVIII, seria uma manifestação da ira divina de difícil explicação.

Na política, o terramoto foi também devastador. O ministro Marquês do Pombal era o favorito do Rei mas não era do agrado da Alta Nobreza, que competia pelo poder e favores do Rei. Depois de 1 de Novembro, a resposta competente do Marquês do Pombal (cujo título lhe é atribuído em 1770), garante-lhe um maior poder e influência perante o Rei, que também aproveita para reforçar o seu poder e aprofundar no Absolutismo o seu reinado.

Com o terramoto de 1755 oa cpmeçar em Portugal a ditadura pombalina.Isto leva a um descontentamento da aristocracia que iria culminar na tentativa de regicídio e na subsequente eliminação dos Távoras. A destruição da cidade de Lisboa colocou, também, em causa as ambições do Império Português de então.

AS causas geológicas do terramoto e da actividade sísmica na região de Lisboa são ainda causa de debate científico. Apesar de existirem indícios geológicos da ocorrência de grandes abalos sísmicos com e periodicidade de aproximadamente 300 anos, Lisboa encontra-se junto de uma falha tectónica, mas a grande maioria dos terramotos tão intensos como o sismo de 1755, só acontece nas zonas de fronteira entre placas. Alguns geólogos portugueses avançam com a idia de que o sismo estaria relacionado com a zona de subducção do Oceano Atlântico, entre as placas tectónicas euro-asiáticas e africana.

Fontes: Wikipédia, Enciclopédia DN (1996/1997) e Enciclopédia Internacional(1977)

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