quarta-feira, julho 21, 2004

Virtualidades

A Oposição já tem líder
Mário Bettencourt Resendes*

"Os aparelhos partidários têm uma espécie de «sexto sentido político» para optar pelo líder que mais hipóteses tem de conduzir as hostes às ansiadas vitórias eleitorais. Funcionários, responsáveis pelas estruturas concelhias e distritais, «barões» e deputados percebem, no tempo certo, qual o homem (ou mulher...) que está melhor posicionado para alcançar as metas que todos partilham. E, no caso do PSD e do PS, o que está em causa é, sobretudo, a conquista do poder, como se confirmou pelos acontecimentos dos últimos dias.

Vejamos, primeiro, o que se passou com Pedro Santana Lopes. Com excepção de duas ou três vozes com peso político próprio, mas com reduzida implantação nas bases, o PSD rendeu-se por inteiro ao novo líder, que nunca havia alcançado, nos congressos do partido, votações próximas de uma maioria. O «establishment» social-democrata cerrou filas ao lado do presidente da Câmara de Lisboa, na convicção, acertada, de que ninguém melhor do que Pedro Santana Lopes estava em condições de garantir ao PSD a permanência no governo.

Era urgente passar, rapidamente, para Belém, uma imagem de unidade interna e de coesão da coligação de centro-direita. Portas cumpriu o seu papel no processo e o reconhecido talento político de Santana encarregou-se do resto.

No PS, o cenário foi semelhante. Num primeiro tempo, juntaram-se as vozes clamando o regresso de António Vitorino, que ampliou a sua reputação de competência técnica e política durante os cinco anos em que foi comissário europeu. Na liderança do PS, Vitorino, nome popular e prestigiado num amplo espectro socio-político, seria um adversário temível para a coligação. Conhecida mais uma recusa de Vitorino, não foram precisas muitas horas para que a esmagadora maioria das «forças vivas» do partido aplaudisse outra candidatura: o PS está convencido de que encontrou, em José Sócrates, o seu «anti-Santana».

Com Santana e Sócrates, sorri a televisão. Foi, afinal, a caixa mágica o terreno privilegiado de afirmação do primeiro ministro e daquele que será, a breve prazo, o líder da oposição."

*Director geral de Publicações da Lusomundo Media

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