'Diácono' Jardim contra os 'espíritos malignos'
"Acabada mais uma inauguração, estava a farta mesa do cocktail posta para os convidados em espaço aberto, Alberto João Jardim atacou um prego e serviu-se de uma imperial bem gelada. Comia com notório apetite, talvez intensificado pela brisa que soprava do mar.
Minutos antes fora descerrada mais uma lápide inaugurativa, desta vez na Ribeira Brava. Rodeado de um séquito engravatado, o líder insular presidiu ontem à abertura do parque empresarial do concelho. Chegou no Mercedes oficial, vestido com a farpela de presidente do Governo Regional.
Na véspera, saltitara de comício em comício, na qualidade de líder do PSD/Madeira. As duas funções confundem-se a todo o instante nesta campanha laranja, dominada pela contínua exibição de novas obras públicas. A banda toca, o povo aplaude, os autarcas agradecem, o clero abençoa. Como ontem sucedeu na Ribeira Brava.
No momento em que Jardim ia iniciar o discurso, os dois grandes guarda-sóis que rodeavam o improvisado palanque ameaçaram cair, soprados pelo vento. Com um gesto instintivo, o homem que governa a Madeira com mão de ferro há 26 anos segurou um deles. E desafiou os repórteres a ampararem o outro: «Os senhores jornalistas segurem nesse. Não é só dizer mal do Alberto João...»
Feito o remoque da praxe à Comunicação Social, Jardim cuidou logo do outro tema que domina todos os seus improvisos: a oposição. Bem ao seu estilo, não poupou palavras, usando uma retórica digna de um teólogo medieval ao denunciar a «conversa barata dos conhecidos espíritos malignos que andam pelo mundo a perverter as almas.»
Afinal que «conversa barata» é essa? A oposição acusa o Governo de esbanjar os recursos da Madeira em obras de fachada, sobretudo em época de caça ao voto, «hipotecando o futuro» da região. Jardim respondeu à letra, dizendo que se trata afinal de «garantir o futuro» dos madeirenses. «Porque é que as pessoas que estão vivas, graças a Deus, não haveriam de disfrutar já hoje de vias-rápidas e ver os filhos em novas escolas?», questionou.
«Comprometer o futuro é não fazer as coisas. O Estado português chegou a uma fase de derrapagem calamitosa. Se não tivéssemos já aproveitado as oportunidades, nomeadamente com o recurso ao crédito, quem nos garante que poderíamos deixar obra daqui a dez anos?», acrescentou.
Lá ficou inaugurado o parque empresarial, com uma área bruta de 79 metros quadrados, pronto a albergar até 60 empresas. Seguiu-se o cocktail, que era afinal um banquete, onde não faltavam sequer as famosas espetadas em pau de louro, típicas da Madeira. É disto que o povo gosta..." - Pedro Correia, in DN
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