Valores canadianos estão mais perto da Europa do que dos EUA
Uma maior integração económica com os EUA é um tema consensual no Canadá ou é objecto de controvérsia, sabendo-se que muitos canadianos desejam essa integração, mas que, por outro lado, subsistem pontos de atrito em áreas como o ambiente, a questão do petróleo do Alasca, entre outras?
Esta é uma questão interna dos canadianos. Somos norte-americanos, estamos muito felizes por o ser, temos um grande vizinho e temos de saber encontrar um modus operandi comum, além de termos uma relação muito importante, rica e complexa com os EUA em matéria comercial: 87 por cento das nossas exportações vão para os EUA, 70 por cento das nossas importações provêm dos EUA. Somos também o maior fornecedor de energia dos EUA, que recebem do Canadá muito mais petróleo do que da Arábia Saudita. Ontário sozinho é o maior parceiro comercial dos EUA. Dito isto, temos também no Canadá opiniões muito claras com que os canadianos se identificam e que, por vezes, são diferentes das dos EUA.
O sistema de valores é diferente. Somos claramente multilateralistas, integramos todas as organizações internacionais, não abdicamos de ter um sistema social que contemple saúde, pensões, tal como os europeus. Também temos um sistema de valores em termos de direitos humanos como os europeus, temos uma carta de direitos que protege os direitos individuais, incluindo os das populações indígenas, abraçamos tendências modernas como o casamento entre o mesmo sexo, o que não é aceite nos EUA, estamos prestes a legalizar a posse de pequenas quantidades de marijuana, que no Canadá deixará de ser crime, o que não é aceite de modo algum nos EUA.
Isso são obstáculos a uma maior integração?
Diria que os canadianos, de acordo com o seu sistema político e de valores, preferem seguir o seu próprio caminho. Neste contexto, a decisão de não participar na coligação no Iraque foi apoiada por uma clara maioria de canadianos e continua a sê-lo, em minha opinião. Muita gente no mundo ficou surpreendida por o Canadá tomar uma posição como esta, de não acompanhar os EUA, seu vizinho... mas, de facto, há limites.
Somos multilateralistas e, como tal, consideramos que deveria existir uma resolução do Conselho de Segurança neste caso, e, não havendo essa resolução, sentimos que não era apropriado o Canadá envolver-se na coligação. Termino dizendo que realizámos há algum tempo uma sondagem sobre o modo como os canadianos encaram a relação Canadá/Europa e Canadá/EUA e constatou-se que os canadianos se sentem muito próximos dos EUA no campo económico, mas muito mais próximos da Europa em sistema de valores, o que parece concordante com outro estudo que fizemos sobre a forma como a UE, os EUA e o Canadá votaram na ONU nos últimos dez anos sobre todas as questões.
Em 90 por cento dos casos, o Canadá e a UE tiveram o mesmo sentido de voto, enquanto que com os EUA partilhámos o mesmo sentido de voto em 60 por cento das ocasiões. Há diferenças, mas o Canadá, a UE e os EUA partilham posições muito semelhantes.
O Canadá é descrito num recente relatório oficial como um país de comércio, que transacciona aproximadamente dois mil milhões de dólares com o mundo. De que forma o Governo canadiano pensa poder aumentar as capacidades do país neste sector?
O comércio internacional é uma prioridade, no sentido de que queremos continuar a ser competitivos, capazes de exportar os nossos produtos, mas também realizamos importações importantes. Actualmente, estamos a exportar menos para a Europa do que importamos - importamos mais do dobro do que exportamos para a Europa -, os EUA continuam a ser o nosso principal mercado. A Europa, em termos de comércio, representa para nós apenas 5,1 por cento das nossas exportações, chegou a ser 25 por cento há alguns anos, mas tem vindo a descer à medida que aumenta a importância dos EUA, através do NAFTA, como nosso parceiro comercial.
A nossa prioridade tem de ser os EUA e estamos a aumentar a nossa presença ali. Com a Europa, o essencial das nossas relações não assenta no comércio, mas no investimento. A Europa representa 27 por cento do total do investimento estrangeiro directo no Canadá; nos últimos três anos, o investimento europeu aumentou cerca de três vezes mais rápido que o investimento norte-americano no Canadá." DN
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